" Uma coisa que poucas pessoas dizem por aí é que todo cozinheiro (a) é na verdade um grande guerreiro. A faca da cozinha simboliza a espada do guerreiro espiritual. A água fervente é o espírito inquieto do guerreiro, que borbulha porque não pode ser controlado e muito menos contido em qualquer recipiente por muito tempo. O guerreiro é livre e essa liberdade deve ser expressa na sua culinária. "
UTENSÍLIOS DE COZINHA
" Os verdadeiros utensílios são as mãos do cozinheiro. Todas as outras ferramentas que se encontram na cozinha nada mais são que extensões das mãos do cozinheiro. A concha usada para pegar o feijão nada mais é do que uma representação das mãos do cozinheiro em formato de concha, só para você ter uma ideia.
O motivo da existência de tais utensílios, já que eles poderiam todos serem substituídos pelas mãos do cozinheiro, é muito simples. Você já tentou colocar suas mãos dentro de uma panela cheia de feijão quente? "
A FACA
" A faca é a ferramenta sagrada do cozinheiro. Ela simboliza a espada espiritual que carrega o guerreiro do alimento e deve ser manejada com delicadeza.
O fio frio da lâmina corta o alimento que será preparado em fatias ou pedaços e é a única aliada do cozinheiro na batalha do preparo do alimento.
Falar sobre a faca assim, diretamente, é impossível. Palavras por si só, como estão em um dicionário, só servem para descrever o metal e o cabo, mas são incapazes de transcrever o que de fato é uma faca. Apenas quando as palavras frias são tocadas por sentimentos verdadeiros elas deixam de ser estes blocos de letras agrupadas e se tornam capazes de expressar algo maior.
A faca nunca poderá ser descrita em sua totalidade em um simples texto de manual. Um poema se faz necessário.
A faca acaricia o alimento.
É a mão no rosto no lugar do beijo
Tão esperado naquela despedida.
A sensação do vazio, do coração despedaçado.
Sim, um gesto de ternura,
Mas ainda sim um corte.
Atravessa fácil o alimento
Despedaçando em um momento
Um coração que sangra apesar de já estar morto.
É esse corte que dá à carne sua forma depois da morte.
E transforma defunto em bife.
Em filé.
Um carinho despretensioso de amigo,
Mas que faz do outro em chamas.
A faca que corta e sangra é a mesma faca que
Às vezes ama,
Que desnuda a fruta como se fora virgem tocada pela primeira vez.
Mas as vezes é indiferente.
Pica de qualquer jeito
Mas nunca arranha a mão do cozinheiro
Que a empunha contra o alimento. "
Nigel Goodman